terça-feira, 26 de agosto de 2008

A hora do recreio na escola

Um dos trabalhos que faço quando realizo assessorias para escolas é o de instituir assembléias de classe e essa é uma experiência muito enriquecedora para alunos e educadores. Ontem, tive a oportunidade de realizar duas dessas assembléias, com alunos de 4ª e 5ª série, e sempre fico impressionada com o que acontece nesse momento dedicado à reflexão da convivência. Sabemos que as escolas enfrentam problemas complexos no que diz respeito à chamada disciplina dos alunos. Um dos problemas nesse sentido é o da violência entre eles e esse foi o tema escolhido pelos alunos para ser debatido. A hora do recreio, tão querido por eles, tem sido um dos momentos mais difíceis nas escolas justamente pelas inúmeras brigas que ocorrem. Soube, inclusive, que muitas delas têm diminuído a duração do recreio por causa disso. Os alunos são os que mais sofrem com tal situação já que quando querem brincar, conviver, espairecer, precisam enfrentar provocações, brigas de grupos – panelinhas, como eles dizem – disputas acirradas de espaços e de jogos, agressões. O mais interessante é que os alunos sabem que o motivo principal que permite que tudo isso aconteça é a falta da presença de adultos responsáveis e com autoridade nessa hora para mediar as relações entre eles. E o que ouvi ontem dos alunos dessas salas foi um pedido de ajuda, de socorro. O que podemos fazer em relação a isso? A hora do recreio precisa também ser considerada um momento educativo, e todo processo educativo com os mais novos exige a presença de educadores, não é verdade? Por isso, as escolas precisam se organizar para que, no recreio, os alunos sejam acompanhados de perto por professores – que podem fazer um rodízio para garantir seu momento de descanso – e outros adultos que trabalham na escola, como inspetores, por exemplo, que precisam de formação e treinamento constantes para realizar bem esse trabalho. Você sabe como acontece o horário do recreio na escola que seu filho freqüenta? Já ouviu reclamações de seu filho a respeito do que acontece nessa hora? O espaço é organizado para promover uma boa convivência entre eles? Há adultos preparados acompanhando, mesmo que à distância, tudo o que acontece para intervir sempre que necessário? Essas são questões importantes sobre o funcionamento escolar que os pais precisam ter conhecimento. Para muitos alunos, essa é a hora preferida deles na escola e, portanto, precisa ser bem cuidada. Afinal, uma boa convivência social - e nosso mundo está precisando muito disso - também exige um longo e difícil aprendizado. Blog da Rosely Sayão

O quadro negro da educação escolar brasileira

A Revista Veja publicou, na semana passada, uma reportagem a respeito da educação brasileira baseada em pesquisa que encomendou à CNT/Sensus. De modo bem resumido: o resultado aponta que o ensino escolar brasileiro é aprovado por professores, pais e alunos tanto da escola pública quanto da privada. Qual o problema de tal parecer de todos os envolvidos na questão do ensino escolar? É que o resultado das avaliações das quais o alunado brasileiro participa mostra que o conhecimento que eles têm é de baixo, bem baixo nível, comparado ao de alunos de outros países. Só como exemplo: o Brasil está em 52º lugar em ciências e em 53º em matemática em uma lista de 57 países. Isso quer dizer que os melhores alunos brasileiros ficam nas últimas colocações em tais avaliações. O que os pais podem fazer para ajudar a melhorar esse quadro? Em primeiro lugar, cobrar da escola que seus filhos freqüentam que esta ensine aos seus alunos - e exija a realização diária - os requisitos necessários ao trabalho intelectual. Atenção, concentração, persistência, esforço são, entre outras características, aspectos importantes do aprendizado. Disciplina para e pelo trabalho é o que deve ocorrer na escola. Quando entro em uma sala de aula e vejo alunos fazendo lições ou assistindo à aula balançando constantemente a carteira, brincando com o material desnecessário que carrega consigo, sentados de qualquer maneira e conversando freneticamente, constato que a disciplina para o trabalho intelectual não faz parte da exigência dos professores. E isso não se pode esperar que o aluno aprenda em casa porque é na escola que ele se inicia nessa função. Outra coisa que chama muito minha atenção é que, quando o professor faz alguma pergunta a respeito do que está ensinando e os alunos respondem, os argumentos usados por eles são muitas vezes vazios de sentido, a linguagem é rasa e, mesmo assim, os professores aceitam o que os alunos dizem sem observação alguma. Por outro lado, os pais precisam de distanciamento da escola para ter uma visão crítica do trabalho que ela realiza. Hoje, o mais comum é que os pais desenvolvam uma afetividade pela escola muito estimulada pela proximidade com os profissionais que lá trabalham, que os alunos aprendam a gostar dos professores e, assim, a submissão aos afetos compromete a visão crítica do que lá acontece. Precisamos e podemos mudar, mesmo que vagarosamente, esse quadro. As novas gerações brasileiras merecem um ensino melhor, praticado com seriedade e o rigor que o conhecimento exige. A hora de brincar na escola é a hora do recreio. Durante as aulas, é hora de trabalho, trabalho e mais trabalho. Como eu já disse, as crianças não são de cristal: elas agüentam, sim, aprender e estudar sem que o clima da sala de aula seja parecido com o do recreio.
Blog da Rosely Saião